Executivo da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi tinha três nacionalidades (brasileira, francesa e libanesa) surpreendeu o mundo com uma fuga espetacular.
O Líbano recebeu da Interpol ordem de prisão do executivo nesta 5ª feira (2 janeiro)
São Paulo – SP
O executivo Carlos Ghosn (65) ex CEO da Renault-Nissan-Mitsubishi conhecido mundialmente por ter salvado a Nissan, em 1999, da falência, continua surpreendendo a todos pela ousadia e planejamento de sua fuga do Japão, onde estava em prisão domiciliar acusado pela Nissan de ter sonegado informações sobre seus rendimentos.
Ghosn ficou conhecido por tirar a segunda maior montadora do Japão que produzia carros de boa qualidade, mas que não conseguia sair do prejuízo ao contrário da Toyota e Honda, que cresciam com lucro.
O executivo nasceu no Brasil, foi para o Líbano ainda criança e depois foi estudar engenharia na França.
Após os estudos conseguiu uma vaga na fábrica de pneus Michelin onde permaneceu por 18 anos onde chegou ao posto de diretor financeiro, onde recebeu uma proposta da Renault para ser vice-presidente.
Na Renault, Ghosn ficou conhecido por cortar custos e aumentar a rentabilidade da empresa.
Em 1999, a Nissan passava por graves dificuldades financeiras e a Renault surpreendeu o mundo adquirindo o controle da segunda maior montadora do Japão. Na negociação a Renault adquiriu 43% das ações da Nissan e a montadora japonesa ficou com 15% da montadora francesa.
Na época, perguntou-se o porque a Toyota havia deixado uma empresa estrangeira adquirir o controle da segunda maior montadora do país, sendo que a montadora japonesa tinha muito mais dinheiro em caixa que a Renault.
Em pouco tempo (2 anos), a Nissan voltou ao lucro e transferiu tecnologia de seus carros para a Renault compartilhando sistemas, peças e plataformas, já que o ponto fraco da montadora francesa era justamente tecnologia.
Sob a administração de Ghosn os lucros e as vendas da Nissan cresciam no Japão e nos EUA, com rentabilidade crescente o que lhe deu um poder acima do normal para um CEO. Ghosn era tratado como um semideus na Nissan e na Renault, onde era respeitado e principalmente temido, após realizar diversas demissões inclusive no alto escalão.
Ghosn era rápido, eficiente e impiedoso, tendo aumentado as vendas da Nissan de 2 milhões de unidades em 2000, para 5,8 milhões sem 2017. Já as vendas da Renault saltaram de 2 milhões de unidades em 2000, para 3,8 milhões em 2017.
No Brasil, a Renault tem vendas acima de todas as montadoras japonesas.
Nos anos seguintes, Ghosn tentou uma fusão com a General Motors nos EUA, mas após duas tentativas com o apoio de investidores americanos que tinham ações da GM, a sua proposta foi rejeitada pela diretoria da empresa.
Frustrado, anos depois Ghosn viu na montadora de automóveis Mitsubishi mais uma possibilidade de compartilhar custos e fábricas e aumentar a rentabilidade da aliança Renault-Nissan, tendo sido bem sucedido novamente, quando a Nissan adquiriu 34% das ações da Mitsubishi.
Mais uma vez todos perguntavam porque a Toyota deixava a Renault comprar mais uma montadora japonesa, sendo que a montadora número 1 do Japão, tinha muito mais dinheiro em caixa.
Ghosn foi durante vários e vários anos o executivo mais bem pago de todos os tempos no Japão, com uma renda ao redor dos US$ 17 milhões/ano pela administração da Renault-Nissan-Mitsubishi de 2014 a 2017, de acordo com a BBC de Londres.
EX CEO PASSA A PRESIDÊNCIA DA NISSAN EM 2018
Porém, após passar a presidência da Nissan para um executivo japonês, Ghosn foi acusado de ter ocultado os seus rendimentos na Nissan o que levou a sua prisão no final de 2018, onde foi preso logo após aterrissar em Tóquio.
Em junho de 2019, a francesa Renault anunciou ter encontrado irregularidades no valor 11 milhões de euros na gestão Ghosn com superfaturamento de viagens e doações para entidades.
Durante o processo no Japão Ghosn foi solto duas vezes, sendo que na última estava em prisão domiciliar com monitoramento por câmeras, mas tinha permissão de sair de casa e até de viajar, sendo que os seus 3 passaportes estavam em poder de seu advogado japonês. Porém, especula-se que o executivo teria 2 passaportes franceses. Na última soltura, Ghosn pagou US$ 9,0 milhões de fiança.
De acordo com fontes do New York Times, Ghosn contratou um grupo musical para uma apresentação em sua casa com a justificativa das festividades de final de ano, e fugiu de sua residência dentro de um compartimento para guardar um instrumento musical direto para o aeroporto de Tóquio (Kansai), onde embarcou em um jato particular Bombardier (23h horário local) para a Turquia.
Da Turquia, Ghosn embarcou em um outro jato particular de menor porte para o Líbano, onde chegou na segunda-feira e foi recebido pelo presidente do país na segunda-feira (30 de dezembro 2019).
Após o encontro com o presidente do Líbano, Ghosn emitiu um comunicado onde disse ser vítima de abuso do sistema judiciário japonês que não respeitaria direitos fundamentais do ser humano. O executivo disse ainda que vai informar a imprensa internacional de que as acusações contra ele são equivocadas e tendenciosas.
O executivo estaria hospedado na casa de um parente de sua esposa na capital Beirute, onde prepara sua defesa e está sob proteção de um esquema de segurança particular.
A Turquia anunciou que realizou a prisão de 7 pessoas suspeitas de terem colaborado com a fuga de Ghosn para o Líbano incluindo 2 pilotos. Com a prisão, mais informações sobre a fuga deverão se tornar conhecidas.
Em um país de baixíssima criminalidade o sistema judicial e a polícia japonesa, não estavam preparados para enfrentar a ousadia e a inteligência de um dos maiores executivos do planeta, que após seu desembarque no Líbano, declarou que não “estava fugindo da justiça, mas que estava fugindo da injustiça”.
Agora no Líbano e sob proteção do presidente do país, Ghosn deve tocar os seus negócios e levar uma vida confortável já que seu patrimônio pessoal está avaliado em US$ 120 milhões.
A Interpol emitiu nesta 5ª feira, 2 de janeiro de 2020, um alerta vermelho para a prisão do executivo.
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